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PLURAL: os textos de Neila Baldi e Noemy Bastos Aramburú

A cultura pede socorro
Neila Baldi 
Professora universitária

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Enquanto empresários fazem carreatas pedindo aberturas com taxas de transmissão da Covid-19 em alta, alguns setores, como o cultural, estão em situação muito pior. Enquanto empresários reclamam que fecharam três semanas entre fevereiro e março deste ano, esquecem que a cultura passou boa parte do período pandêmico parada.

Como sou profissional da dança, darei exemplos das artes da cena. Teatros e escolas de cursos livres de artes fecharam em março de 2020. Algumas retomaram em setembro e, nas férias escolares, muitas fecham. Teatros seguem fechados. Enquanto isso, a construção civil voltou em abril, as micro e pequenas empresas em maio e os shoppings em junho do ano passado.

LUTA

O ano de 2020 foi de muita dificuldade e de luta para os trabalhadores da cultura. Muito adaptaram suas atividades para o on-line, outros não conseguiram. Apesar de o setor representar até 4% do Produto Interno Bruto (PIB), boa parte são trabalhadores informais, sem direitos trabalhistas e sem reservas econômicas. Depois de muita peleia, vieram os recursos da Lei Aldir Blanc, mas insuficientes e não atenderem a todos. Ações de solidariedade para a comunidade artística têm sido constantes, como a distribuição de cestas básicas.

Ano passado, já falei aqui da importância do setor - no artigo "Cultura é trabalho e renda". E para que o setor consiga retomar as atividades - quando as condições sanitárias permitirem - precisamos de uma série de ações. Primeiro, vacinação em massa para todos e todas. Esta é uma luta que todos deveriam se somar, inclusive os empresários que, apesar das restrições, seguiram com empresas funcionando em boa parte do período pandêmico. Caros, se está difícil para vocês, imagina para quem não tem reserva financeira nem vínculo empregatício, muito menos acesso a crédito?

APOIO

O segmento cultural é diverso e, por isso, as políticas públicas também devem ser. Para termos artistas, precisamos das escolas - cursos livres, técnicos e de graduação. Ou seja, além da manutenção dos espaços artísticos e artistas - e de toda a cadeia da cultura - precisamos manter os formadores.

Por isso, é preciso apoio econômico. É urgente a reedição da Lei Aldir Blanc - sanando equívocos da edição passada. Mas, como na esfera federal as ações são a passos de tartaruga, é preciso que no Estado e nos municípios tenhamos medidas - propostas pelo Executivo ou Legislativo. Sugiro redução ou congelamento de impostos, auxílio emergencial para autônomos e pequenas e microempresas, e lançamento de editais para artistas.

Mãe eu tirei 5 na prova, mas toda a turma foi mal

Noemy Bastos Aramburú
Advogada, administradora judicial, palestrante e doutora

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Certa feita, em uma palestra, convidei a todos que levantassem e saíssem correndo no local em que estávamos. Três minutos depois, percebi que as pessoas estavam organizando filas e roteiros para correr. Então, entrei no tema que havia escolhido, "a necessidade do ser humano em ter um líder". 

O primeiro líder que tivemos foi Jesus. Ele falava às multidões de vários modos, sempre próximo do povo, sentado no chão, mexendo na terra, dentro de um barco. Conversava com presos, prostitutas, ia a festas. Transformou água em vinho em um casamento. 

Para os evangélicos, foi quem morreu na cruz pelos nossos pecados para nos trazer a salvação. Para os hippies, um pacifista de voz mansa que falava da paz universal. E para os judeus? A religião judaica atual vê Jesus como mais um falso messias que apareceu ao longo da história, para eles o verdadeiro Messias ainda não chegou. 

QUEM SÃO ELES

E na política? Bom, nesta área, penso que estamos como a plateia da minha palestra, correndo e organizando roteiros para descobrir se existem líderes, saciando nossa natural expectativa. Em 6 de dezembro de 1976, minha mãe nos levou ao enterro do João Goulart, disse ela que um dia entenderíamos a importância daquele momento, que ali estava um dos grandes líderes brasileiros. Lembro-me que chorava assustada pela multidão que se aglomerava para ver o corpo daquele homem, que, para mim, ainda criança, nada significava, apesar de ser brasileira. 

Em 21 de junho de 2004, na mesma cidade, foi enterrado, também sob forte comoção, o líder Leonel Brizola. Mais uma vez, as pessoas se aglomeraram para despedirem-se de seu líder. 

E hoje? Particularmente, não vejo líderes, não na essência da palavra, muito menos na concepção do autor de O Monge e o Executivo. Vejo grupos querendo impor os homens que elegeram como seus líderes. Fato que salta aos olhos é que elas sabem que estes homens não são líderes. Se realmente, elas soubessem que são líderes, não seriam tão agressivas, não fariam discursos tão eloquentes em suas redes sociais, em seus discursos, para que aceitemos estes homens como líderes. Os líderes são personagens que suas atitudes, suas falas são eleitas pelo povo como condutas a serem seguidas, seus comportamentos passam a ser exemplos,naturalmente, sem que precisem de pessoas para justificar os rótulos, as condenações, os comportamentos condenáveis. 

Essas pessoas que querem impor certas figuras. Como líderes, agem como agíamos quando criança: "mãe, eu tirei 5,0 na prova, mas toda a turma foi mal", apresentam o erro dos outros, para justificar o erro do que chamam de líder. Acordem, líder nasce líder.

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